terça-feira, 2 de agosto de 2011

Lições na montanha - Por Thaís Lira

Lições na Montanha 
Por Thaís Lira

Sexta-feira, Junho de 1952



"Olá amigos. Estou deixando essa carta a vós... Pois encontrei um mapa há 
poucos dias. Neste mapa, há um caminho que devo seguir. E sinto que já perdi 
muito tempo. Por isso, preparei lenha, comida, roupas fortes, e parti. E acho 
que vocês deviam fazer o mesmo. Ouvi dizer que para onde vou, existe água 
limpa e pura. Existem frutos perfeitos. Existem pedras preciosas a beira de 
lagos. E ouvi dizer que a areia é branca como as nuvens. Precisei ir! Pois me 
cansei de ficar aqui, sentado sobre essa cadeira, fumando esse velho 
cachimbo. Vendo as garotinhas se venderem para homens bem vestidos. Preciso 
ir! Pois me cansei dessa vida solitária que tenho tido aqui. Vocês são meus 
únicos amigos. E sei que irão me compreender. Não pensem em chamar a polícia. 
Estou muito certo da escolha que fiz. Podem notar que deixei toda a bebida 
que ainda restava na botija. Não quero ver nada além do que devo ver. Pois se 
um dia me encontrarem, irão dizer que tive alucinações. E não quero! Prometo 
que pelo caminho, enviarei cartas. Pois estou levando um pombo correio que 
comprei com as últimas moedas que tinha. Falamo-nos em breve amigos. Até 
breve!"

Janeiro de 1953



"Queridos amigos, se lembram do conselho que vos dei, para que seguissem o 
mapa? Pois desfaço meu conselho. E também vos exorto a não acreditarem que há 
um Criador! Há animais horríveis por aqui. Não podem imaginar o quanto este 
lugar me faz mal. Passei por muitos lugares. E meu corpo está cansado. Paro 
para descansar em uma pedra qualquer. Mas logo sou despertado por minha fome. 
Por aqui, estou me alimentando de insetos e folhas que encontro pelo caminho. 
Isto, parece ruim. Mas na situação que me encontro, é um banquete. Amigos, eu 
pensei que logo encontraria o que tanto procuro. E depois de muito caminhar, 
cheguei aqui. Estou diante de uma montanha. Ela é tão grande quanto nos 
filmes. Tão grande quanto é descrita nos livros. Parece impossível atravessá-
la. Para terem uma ideia, é tão alta, que não consigo enxergar o sol, nem a 
lua daqui. Pelo meu calendário, estamos no verão. Por isso, aqui está tão 
quente. Imaginem esta montanha sendo exposta diante do sol? Para mim, que 
estou aqui do outro lado, é de me arrancar o pouco juízo que me resta. Aqui 
perto, há um lago. Mas a água é horrível. Tem gosto de barro. Sinto sede! Só 
molho os lábios quando é necessário. Minhas roupas fortes, de puro couro, não 
são mais úteis. O calor é tão grande, que elas parecem derreter no corpo. Se 
existe inferno, estou pisando nele. Por isso vos digo, amigos queridos; não 
sigam este caminho! A não ser que queiram morrer consumidos pela terra. Pois 
este é o meu destino."

Dezembro de 1954



"Amigos queridos; peço perdão! Pois vos dei um péssimo conselho! Se estão 
lendo isso, peço que venham o mais depressa que possam. Parei durante aqueles 
dias, e antes de ser consumido pela terra, encontrei próximo ao lago de água 
ruim, uma pequena árvore que dava folhas de guaraná. Com estas folhas, 
preparei um chá, que me trouxe ânimo e fôlego de vida novamente! Foi algo dos 
céus. Mal pude acreditar que nesta época do ano, haveria algo tão bom por 
aqui. Acredito que estejamos no ano de 1954. Mas não tenho certeza. Pois meu 
calendário já é antigo. Como vêem um ano se passou. Queridos amigos; preciso 
vos dizer: na escalada durante a montanha, encontrei coisas mui preciosas; 
pedras preciosas, água cristalina... Mas também me deparei com animais 
sombrios; morcegos e outros bichos estranhos. Mas nada me botou medo como 
aquela parte estreita que havia em uma caverna no caminho da montanha. A 
caverna estreita era cheia de espinhos, feitos da própria pedra. É como a 
boca de um dragão, descrito por João, no fim dos tempos. Mas senti que estava 
chegando ao fim. Rezei ao Criador e me lamentei um pouco sobre meu cansaço 
físico. Mas prossegui. Queridos amigos; Mal posso acreditar que cheguei até 
aqui. Tudo por aqui é tão lindo. Tão perfeito. É como se estivesse no jardim 
do Éden novamente. Perante a face do supremo Criador. Como fui capaz de 
questionar-me de sua existência? Só por ter sentido que meus pés já não 
poderiam andar sozinhos? Nunca pensei que sobreviria. Jamais pensei que 
pisaria neste chão. Se pudessem sentir o descanso que sinto. Se pudessem 
sentir o doce aroma destas flores. Se pudessem sentir o paz e conforto 
sublime dessas águas. Queridos amigos! Se vocês encontrarem outras mapas por 
ai... Não tenham medo algum em segui-lo. Cada passo. A dor virá. A fome virá. 
O cansaço virá. A sede virá. As dúvidas viram. Mas não pensem em voltar 
atrás! Descansem um pouco quando chegarem diante da montanha. Ele vai te por 
muito medo. Mas no dia seguinte, sinta o vigor em cada passo teu. E venha! 
Venha sem medo. Pois o que há aqui do outro lado, é para os fortes, que não 
seguram seus passos. É isso que vos digo.”

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